O Telhado

Chove copiosamente na minha cabeça

Moro na mesma casa a 26 anos. Construída do suado dinheiro de minha mãe, feita num terreno pago em Cruzeiros Novos vivos, vi acontecer cada transformação nela ao decorrer da vida. Porém, como tudo que envelhece com o tempo, um dia o telhado decidiu que era hora de saber mais, e sem a menor cerimônia, optou por abrir-se. Quase que por inteiro. Na época de chuvas.

Goteiras são comuns em chuvas de vento, pois as telhas podem se desalinhar e causar pequenos vãos entre elas, onde a água não vai hesitar passar, e seria bastante contornável se fosse uma ou duas, e não dezenas. Problema antigo, foi só aumentando com o tempo, e numa semana onde chove sem descanso no Rio, cada trovoada é sinal de aflição.

Basta o ritmo inconstante da chuva apertar, e o terraço se inunda, causando pânico em meus familiares. A água que acumula, se não removida à tempo, infiltrará as paredes do térreo, aumentando ainda mais o desespero. E se o problema fosse só esse, seria ótimo.

Na busca de sanar o queijo suíço que chamamos de teto, procuramos um profissional para refazer o telhado, realinhando as telhas e enfim cessando as goteiras. As semanas se passavam, o trabalho mal avançava e à cada nova chuva, mais molhados ficávamos, acredito eu que mais do que se estivéssemos na rua. O cinismo e fala mansa do cidadão encarregado pelo trabalho impressionavam, onde até as telhas eram culpadas pelo mau serviço, e não o único ser vivo responsável por elas. Não demorou para que um basta fosse posto a isso, ainda que não de maneira mais diplomática possível.

Estressados, molhados e fartos de jogar tempo e dinheiro fora, fomos atrás de outro. Este decidiu por inclinar ainda mais o teto, melhorando seu caimento, e na esperança de resolver enfim o pinga-pinga dentro de casa. [A obra ainda não acabou, então ainda irei atualizar essa parte].

Nisso, vejo o certo desgosto em meus pais de tentar levar isso adiante, para que possam dormir tranquilos (e secos). Me vejo atingido por esse fato, pois além de ajudar como posso, vejo neles o olhar cansado de quem não aguenta mais gerir tudo nas costas. No que consigo, tento capitanear onde não há mais paciência.

Acho que não há lição nesta crônica, é apenas um desabafo mesmo. Tudo ficará mais tranquilo quando o céu abrir. Eu acho.

Até lá, haja balde.

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